OUTRAS ESCRITAS

E lá se vai o fuscão preto

A Funcef anunciou, em seu portal, a alienação do Edifício Funcef Center, localizado na Av. Paulista. R$ 81,7 milhões, R$ 11 mil o metro quadrado, diz a Fundação. O edifício é vizinho do prédio verde, o da Paulista, 1842, que já foi sede da Caixa – filial, superintendência ou gerência regional, a depender da época, em seus variados nomes e formatos.

Pelos mais antigos de Caixa, o Funcef Center era conhecido como “fuscão preto”. Um fuscão preto marcado pelos vidros escuros, não pelo aço cantado na canção inspiradora do apelido.

Ali, no primeiro andar, nos anos 1980 abrigava-se a Apcef São Paulo. Em determinada campanha salarial, assembleia na quadra dos bancários – outro pedaço de memória que, em breve, desaparecerá – chegou a notícia de que a Caixa fecharia o prédio para impedir a entrada do comando de greve. O comando se reunia na Associação. O fechamento ficou na ameaça. A assembleia se dispunha a ir à Apcef, invadir.

No fuscão preto ficava a gráfica da Apcef. Gráfica, no caso, é certo exagero para a estrutura com uma pequena impressora, apenas. Nivaldo era o gráfico. A morte o levou ainda jovem. Nivaldo, petista, militante, fazia campanha por José Genoino.

Também ali, reunião em 30 de outubro de 1985, avaliando a greve das 6 horas enfim realizada. Entre outras figuras do comando, duas grandes lutadoras: Carminha e Cristina Locatelli. Cristina, ansiosa e, por isso, quase agressiva, propunha as eleições de delegados sindicais nas unidades, com prazo de um dia para que se realizassem. Dizia ela: ata de eleição enviada pelo malote, no dia seguinte a eleição e devolução da ata. Carminha, com seu sorriso gentil, disse, delicadamente, que para agências os prazos precisavam ser um pouco mais longos.

A reunião fora consequência de observação de Luís Gushiken, então diretor do Sindicato. Enquanto todos nós, grevistas, comemorávamos no pátio da filial, Gushiken, num canto próximo, chamou aqueles identificados como coordenação do movimento e perguntou: “E agora?”. Pois é. Era melhor deixar a comemoração e pensar no dia seguinte. Uma grande lição, entre tantas que Gushi nos ensinou.

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