Joe Sacco, jornalista e cartunista nascido na ilha europeia de Malta, tem entre seus trabalhos o livro Palestina (No Brasil, publicado por Editora Veneta, 2021). Nesse livro, o autor agrupa nove edições de gibis, lançadas entre 1993 e 1995, com ilustrações e textos de sua autoria elaborados a partir de seu testemunho na Faixa De Gaza e Cisjordânia, locais por onde andou, ouviu pessoas e presenciou agressões do exército israelense a gente do lugar durante dois meses, entre o final de 1991 e o início de 1992.
A leitura da história em quadrinhos, embora passadas três décadas, remete ao que se vê agora. É a realidade presente. Israel controlava, como ainda controla, além da Cisjordânia, os 365 km2 da superpovoada Faixa de Gaza, cercando-a e transformando-a em um campo de concentração.
Joe Sacco conta em seus quadrinhos que ante o apedrejamento a soldados israelenses por jovens palestinos, a resposta do estado sionista é de condenações à prisão por décadas, quando não de execuções sumárias de suspeitos, promovidas por um equipadíssimo exército. Em seu relato ele traduz, também, a tristeza de alguns daqueles habitantes que foram autorizados pela força militar israelense a velarem por apenas alguns minutos seus filhos assassinados, vítimas daquela mesma força, enterrando-os rapidamente na madrugada, sem alarde.
No capítulo “Lembre-se de mim”, conta que conheceu um fotojornalista japonês e com ele chegou a Balata, o maior campo de refugiados da Cisjordânia: “Alguns palestinos que moram aqui estavam entre os 750 mil que fugiram do que agora é Israel, em 1948. Eu preciso falar sobre 1948? Não é nenhum segredo como os sionistas usaram boatos, ameaças e massacres para expulsar os árabes e criar nova distribuição populacional que garantisse a natureza judia de Israel”. Joe Sacco acrescenta, destacando fala de David Ben-Gurion, naquele ano o primeiro-ministro de Israel: “Em cada ataque aos palestinos ‘uma ofensiva considerável deve ser conduzida resultando na destruição de lares e na expulsão da população (…) Agora os árabes palestinos só têm uma coisa a fazer: fugir’ ”.
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