Fala de José Genoíno, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, quadro histórico em lutas sociais, com sua caminhada repleta de enfrentamento corajoso às perseguições e injustiças, inclusive àquelas das quais foi ele próprio vítima desde a luta contra a ditadura militar.
“A crítica que eu faço ao meu governo é a de que o governo não está enfrentando, não está polarizando. Para você governar, você tem que enfrentar, polarizar, para depois negociar. Nós só estamos negociando e não estamos enfrentando. Precisamos fazer um enfrentamento mais claro”.
Genoíno, a partir de questionamento do jornalista Leandro Fortes no programa Café da Manhã do DCM, edição de 17 de novembro, analisava a postura do Governo Lula ante os segmentos de direita e extrema direita no país, mídia corporativa neles incluída.
Embora se trate de tema de menor relevância ante o projeto de país, a lição definida em polarizar antes de negociar pode ser dirigida hoje à Contraf-CUT, representação de bancários da Caixa. Polarizar é organizar a luta desses bancários.
No momento, Contraf-CUT e banco discutem Saúde Caixa. Trata-se do direito de dezenas de milhares de empregados do banco e seus dependentes. No entanto, Contraf-CUT e entidades que a ela se submetem acomodam-se às salas de reuniões com a Caixa, como, aliás, têm-se acomodado nos últimos anos.
Sigilo e a dispensa de representados
As salas de reuniões produzem fotografias de negociadores reunidos, figuras que se repetem ao longo do tempo por vezes sorridentes, outras nem tanto, em imagens identificadas, apenas, por legendas. Resultam das salas anúncios dissimulados, de uma representação que se curva à ordem de sigilo patronal. Sigilo, no caso, é forma de omitir de representados informações essenciais à tomada de decisão. Foi assim em 2018, enredo repetido em 2020, em 2021 e em 2022. Nesse período, sigilo conveniente, interesse do banco satisfeito, perda imposta ao trabalhador, todo o conjunto submetido a um sim ou não eletrônico, máximo permitido a cada representado.
Ao que aprece, a Confederação enxerga-se soberba. A presença de representados, exceto pelo formalismo plebiscitário, incomoda e é dispensável. Não por outra razão, nas duas últimas edições de Conecef – Congresso de Empregados da Caixa que se realizava a cada ano desde 1985 – aposentados foram admitidos apenas com representação simbólica, não obstante dois dos principais assuntos tratados terem sido Saúde Caixa e Funcef, que a eles interessa diretamente. Em 2023, aos dispensados aposentados juntaram-se, também dispensados, os empregados da ativa: nem mesmo Conecef foi realizado.
Dia 22
A Contraf-CUT tem por hábito atribuir-se avanços e conquistas, mesmo que inexistam avanços e conquistas, mesmo que perdas estejam consagradas em acordos por ela assinados desde 2018.
Neste mês de novembro, seguem as conversas a respeito do Saúde Caixa. Apela-se, aqui, à lição de Genoíno: polarizar. Polarizar significa deixar a prática subserviente e, enquanto entidade representativa, organizar os trabalhadores para a luta. Hoje abandonado, este foi por muito tempo o caminho para direitos recuperados, direitos mantidos, direitos conquistados.