COISAS DE AGORA

Ossos, em promoção, a R$ 4,00 kg.

É o Brazil, aqui grafado com z, merecido atributo da condição colonial. E, por conta do ‘z’, valem os axiomas da política neoliberal, aplicados satisfatoriamente pelo governo Bolsonaro e seu, assim por ele denominado, “posto ipiranga”:

a) há que se gerar desemprego para elevar a oferta de mão de obra e, com isso, reduzir o custo patronal.

b) há que se desregulamentar a contratação trabalhista, eufemismo para o corte de direitos, também com o objetivo de reduzir o custo ao patronato;

c) há que se promover a visão de que o trampo pode ser encontrado por quem procura, mera questão de mérito.

d) há que se alterar a metodologia estatística, para que aqueles submetidos à flexibilidade da lei trabalhista, os que vivem de bico, possam ser rotulados no Caged como ocupantes de postos de trabalho formais, criados pela economia que está bombando.

e) há que se congelar o gasto público, assim entendido o dispêndio de recursos desde salários do funcionalismo à aquisição de absorventes para mulheres em situação vulnerável. Excetua-se do congelamento a transferência de renda diária à oligarquia financeira, variável não computada para o deficit fiscal primário.

f) há que se elevar a taxa básica de juros, dificultando financiamento de qualquer coisa ou investimento, para conter a inflação.

Ainda em axiomas neoliberais, pouco importa se a variação de preços tem sido consequência essencialmente da desvalorização do real ante o dólar e o euro, da elevação do custo da energia elétrica, da disparada dos preços da gasolina, diesel, gás de botijão e etanol.

Moeda nacional desvalorizada incentiva a exportação e, com ela, redução da oferta interna de produtos – o etanol, por exemplo – além de ser vantajosa a quem possui poupança em moeda estrangeira, seja lá onde for. Energia elétrica mais cara é prêmio de seguro às distribuidoras privadas por conta do fornecimento por termelétricas. Combustíveis indexados à cotação internacional é paga a acionistas estadunidenses da Petrobrás, em nome de seus dividendos. Resultado prático: custo de produção e do frete elevados, oferta em queda, encarecendo, especialmente, alimentos.

A cesta básica calculada pelo Dieese em setembro de 2021 em São Paulo, a de valor mais elevado entre as capitais pesquisadas, foi de R$ 673,45, o que  equivale a 66,2% do salário-mínimo líquido e 19,54% mais cara que em setembro de 2020. Nas demais capitais, a coisa não está muito diferente. Alimentos mais caros são tão mais punitivos às famílias quanto menor for a renda.  Em outras palavras: quanto mais pobre, maior o comprometimento de seu parco orçamento.

Desempregados, 14 milhões; desalentados, 6 milhões; passam fome, diariamente, 19 milhões. Velas, fogão a lenha, ossos. E há quem defenda esse modelo.

imagem publicada pelo Diário do Centro do Mundo

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