Resultado de pesquisa realizada por grupo escolhido em seleção pública da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2021, o livro “A serviço da repressão: Grupo Folha e violações de direitos na ditadura” [i] relata a participação dos jornais desse grupo em apoio ao golpe que derrubou em 1964 o governo eleito de João Goulart e à ditadura a partir de então implantada no país. A pesquisa teve por base entrevistas com jornalistas, agentes policiais e militantes presos à época, além de informações em arquivos públicos.
Embora outras empresas jornalísticas tenham se engajado na promoção do golpe de 1964 e, por período maior ou menor, se alinhado firmemente aos generais – a exemplo do Grupo Estado, jornal O Globo e, de 1965 em diante, TV Globo – o caso da Folha, diz o trabalho, “não se resumiu a posicionamento político e editorial. A empresa colaborou materialmente com a repressão, emprestando seus veículos para que o regime pudesse realizar, de forma mais efetiva, a captura e a perseguição a militantes políticos”. Cedeu, também, instalações para que “delegados do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP) e outros agentes da repressão atuassem de forma livre na empresa”.
O livro narra o crescimento do Grupo Folha e, antes disso, as atividades de seus então proprietários, Otávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, na exploração da Estação Rodoviária de São Paulo, instalada em 1961 na Praça Júlio Prestes com parte do terreno cedido pelo poder público. Frias e Caldeira adquiriram, em 1962, a Folha da Manhã S/A. A partir de 1964, aquisição de outros órgãos de imprensa, a exemplo dos jornais Notícias Populares e Última Hora, além de participação na Fundação Cásper Líbero e TV Excelsior. Diz o livro, ainda, que “nada disso foi feito de forma gratuita. A empresa se beneficiou economicamente do contexto instaurado pela ditadura. Em pouquíssimo tempo, se transformou de um jornal em dificuldades financeiras num dos principais conglomerados de comunicação do país!”.
Em sua conclusão, os autores mencionam que “os jornais do Grupo Folha eram veículos de legitimação do regime e da violência por ele perpetrada” e disseminavam o que “hoje, talvez chamássemos – este tipo de narrativa massivamente reproduzida no jornais do Grupo Folhe- de ‘desinformação’ ou, quem sabe, apenas de fake News”.
Documentário
A pesquisa também deu origem à série “Folha Corrida”, realizada pela produtora Terra Firme e dirigida por Chaim Litewski, que vem sendo exibida no portal do Instituto Conhecimento Liberta – ICL
[i] Editora Mórula, Rio de Janeiro, 2024, livro do grupo de pesquisa integrado por Ana Paulo Goulart Ribeiro, Amanda Romanelli, André Bonsanto, Flora Daemon, Joëlle Rouchou, Lucas Oedretti
Documentário disponível em https://icl.com.br/?src=portalnoticias