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A campanha de 2022 na Caixa e a lembrança de Décio de Carvalho.

Anos 1990, em mesa de negociação o coordenador da representação da Caixa gentilmente saudou a presença, entre os representantes eleitos pelos trabalhadores, de um aposentado, então apresentado como tal para valorizar o segmento e não por sua condição de aposentado. Mas, em seguida à gentil saudação, o porta-voz do banco disse que, embora pautados, não seriam tratados temas relativos aos aposentados nas negociações, pois, afinal, não tinha a Caixa mais qualquer vínculo com eles. Décio de Carvalho, o representante eleito, ouviu atentamente. Em resposta, dirigiu-se ao coordenador olhando-o firmemente e esclareceu que a existência da Caixa, seu crescimento e o crescimento de seus trabalhadores não era fruto apenas da presença daqueles que ainda carregavam uma carteira assinada, sem baixa. Disse, também, que compromissos assumidos ao longo do tempo pelo empregador deveriam ser respeitados, independentemente da condição do empregado, fosse da ativa ou já aposentado. A comissão eleita pelos trabalhadores tinha entre suas tarefas a de exigir tal respeito, lembrou Décio, que a integrava, não um mero observador. Após ouvi-lo, o coordenador da mesa da Caixa calou-se.

Dr. Décio, como era conhecido, havia sido escolhido em Conecef – Congresso Nacional dos Empregados da Caixa, pois desse congresso participavam bancários, naquele tempo assim considerados os da ativa e os aposentados. Eram eleitos em suas bases, em proporção ao total existente no respectivo segmento.

Agora, até há alguns aposentados, mas não há mais bancada de aposentados em congressos de trabalhadores. Se bancada houvesse, sua palavra seria ouvida, seu voto contado, sua escolha proporcional ao que representariam. Não havendo, o recado de dirigentes é claro: das questões de aposentados, que cuidem suas entidades, se assim quiserem.

Aposentados têm muitas questões a serem tratadas, algumas delas até mesmo comuns àquelas dos trabalhadores da ativa. Aposentados são associados de muitos sindicatos. São associados, também, de associações de pessoal da Caixa, as Apcef, entidades que têm por objetivo defender o interesse de seus associados, entre eles aposentados, com perdão pelas redundâncias. E essas questões esbarram na ex-empregadora.

Há quem defenda que a organização e a luta de trabalhadores deva ser “departamentalizada”: aos sindicatos cabe isto, às associações classistas, aquilo. Bobagem: as entidades foram construídas para somarem forças, não para dividi-las.

Aposentados recebendo benefício mensal em planos Funcef são 61.439 em julho de 2022, registra a fundação em seu cadastro; participantes ainda em atividade, vinculados aos mesmos planos, outros 95.464. Em proporção arredondada: 39% de aposentados e pensionistas e 61% de ativos. Em médio prazo, aposentados serão maioria.

Desprezar a presença desse segmento na organização e na luta é, para evitar grosserias, coisa de gente insensível. E foi o que se viu, definitivamente, na campanha salarial de 2022 na Caixa. Mas, afinal, não chega a surpreender: se a bancários da ativa não é dada a palavra, a eles se impõe o limite de um xis virtual, para que dirigentes de agora trariam mais gente?

Estamos num tempo em que um coordenador da mesa da Caixa certamente não passa o vexame que passou aquele frente ao Dr. Décio.

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