COISAS DE AGORA

Simultânea de xadrez na Praça Antônio Prado.

Abril de 1980. Luís Inácio da Silva, o Lula, e outros dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema estavam presos em razão da greve da categoria. A prisão fora determinada pela ditadura. O grupo 14 da Fiesp levara ao General Figueiredo, ditador-chefe, suas queixas relativas aos prejuízos bilionários causados pelos arruaceiros. Fiesp e ditadura semelhantes, antes e agora pautadas pelos mesmos interesses.

Fernando Morais, autor da recém-lançada biografia de Lula (Companhia das Letras), narra que a carceragem receberia em breve dois novos inquilinos: o vice-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luís Gushiken, “um nissei baixinho e parrudo, com cavanhaque e bigode estilo Fu Manchum, escorridos pelo rosto, e o enxadrista e vice-campeão paulista Herbert Carvalho”. Gushiken espalhou nas calçadas da Praça Antônio Prado, o coração do dinheiro no Brasil, “dez mesinhas de madeira e dez tabuleiros de xadrez. O sindicalista estendeu ampla faixa vermelha pintada com a frase em letras gigantes: ‘Abaixo a ditadura! Desafie o vice-campeão paulista de xadrez, Herbert Carvalho, aqui presente. A renda das partidas será destinada ao Fundo de Greve dos metalúrgicos do ABC’ ”.

Morais diz que a simultânea durou pouco. O DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) cercou o lugar, apreendeu os tabuleiros, torres, cavalos e rainhas, atirou tudo no camburão com Gushiken e Carvalho. O DOPS também levou Genésio dos Santos, bancário do Banco do Brasil, desafiante que nem percebera a chegada da polícia por estar concentrado no jogo.

You may also like

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Escravos unidos

Em “Projeto Escravos Unidos”, capítulo do trabalho, o Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal ...