Encerrada a eleição à presidência em 2014, o PSDB do derrotado Aécio Neves recusou-se em reconhecer a vitória de Dilma Rousseff. Questionou o resultado junto ao Tribunal Superior Eleitoral, sem sucesso. Mais tarde, em conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e Aécio Neves, publicada em delação premiada do empresário, revelou-se que o questionamento fora obra do “revanchismo”.
Dilma assumiu em janeiro de 2015 com Joaquim Levy, porta-voz das finanças, indicado para a Fazenda, onde coordenaria o neoliberalismo a ser retomado. Há de se lembrar, ainda, que o então PMDB, partido do candidato a vice de Dilma, Michel Temer, lançara em outubro de 2014 um condensado do mesmo neoliberalismo, denominado “Ponte para o Futuro”.
Deu no que deu: crise econômica profunda, fragilidade no mandato e mídia hegemônica atuante destituíram Dilma em 2016, sem crime de responsabilidade qualquer.
Foi golpe por meio parlamentar, é verdade. Porém, não é menos verdade que, dias após o golpe, representantes dos golpeados procuraram golpistas para discutir a composição à mesa da Câmara.
E a história se repete. O Partido dos Trabalhadores, da presidenta derrubada, publicou em seu portal, em 18 de dezembro, a “Íntegra da Carta dos Partidos”, por ele subscrita.
Nessa carta, menciona-se a “inegável projeção” da Câmara dos Deputados, por ter-se tornado “fortaleza da democracia no Brasil (…) exemplo de respeito e empatia com milhões de cidadãos brasileiros”. Diz mais: “enquanto uns cultivam o sonho do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade”.
Pois é, a carta é manifesto em apoio ao candidato à presidência da tal casa-exemplo, a ser indicado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, parlamentar a quem foram apresentados quatro dezenas de pedidos de impeachment do Presidente da República, Jair Bolsonaro. Os pedidos não são aceitos nem recusados: estão engavetados.
A carta reconhece haver diferenças entre seus subscritores, mas se encerra com “Somos a União da Democracia com a Liberdade”. Tudo em nome da luta contra algum indicado de Bolsonaro. Quanta pureza!
Quem mais assina? DEM, PSDB, Cidadania, MDB, enfim, inúmeros golpistas de 2016 (alguns, desde sempre).
Mas, afinal, para que esse rancor com golpistas se a moral é pragmática? E, no mais, os golpeados sempre poderão criticar o PSTU, por não ter reconhecido o golpe!