“De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão –
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção”. (Vinícius de Moraes)
Ofertas do sistema neste 1º de maio: desocupação, subutilização, informalidade, empreendedorismo, ‘pejotização’, desalento, ganho real.
Quando manchetes anunciarem menor desemprego da série histórica, pleno emprego, ganhos reais e empreendedorismo é conveniente entender expressões, números e percentuais que sustentam essas manchetes.
Desocupação: rótulo associado à taxa que cai dada a imperiosa necessidade do desocupado em alcançar qualquer ganho. Estatisticamente, alguém vendendo pano de chão em semáforos, fones de ouvido em trens ou cuidando de veículos estacionados nas ruas, sem proteção social alguma nem agora nem para o futuro, é um ocupado. Por estar ocupado, deixa o grupo dos desocupados e alimenta a manchete de queda do desemprego.
Subutilização: característica da mão de obra ocupada, mas subocupada pela insuficiência de horas trabalhadas.
Informalidade: eufemismo para a condição daquele contratado sem registro, sem carteira ou para o vendedor de qualquer coisa que possa lhe dar a esperança do pão do dia.
Empreendedorismo: ramo de atividade de trabalhador sem direito, vinculado a empregador desconhecido, submetido a ordens de serviços por meio digital. No empreendedorismo, insumos e custos de execução dos serviços são do trabalhador-empreendedor e parte de seu ganho é confiscado por quem não produz nada para tal ganho.
‘Pejotização’: forma de contratação de empregado como se fosse empresa, meio patronal de burla do que restou da CLT. Nesse campo, o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, uma corte de causas constitucionais, trancou milhares de demandas de trabalhadores nos Tribunais do Trabalho, as cortes de causas trabalhistas. Trancou para padronizar procedimentos. Quando padronizados, a ver a favor de quem.
Desalento: característica do desalentado, o cidadão, em especial o mais jovem ou o mais velho, que, cansado da busca infrutífera, perdeu por fim a esperança de encontrar emprego.
Ganho real: na remuneração, acréscimo superior à média ponderada de elevação de preços e serviços, mas que se situa abaixo da elevação real do comprometimento orçamentário da família.
Em cada uma das expressões, exceção à de ganho real, encontram-se milhões e milhões de trabalhadores.
Algumas centrais sindicais promoverão, neste Dia do Trabalhador, sorteio de veículos em praça pública. Concorrerão os que aparecerem em tais eventos.