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Caixa: de fato, uma instituição; e, de fato, ameaçada pelo comando do centrão

A Caixa chega ao seu centésimo sexagésimo quarto ano. Seus números, base setembro de 2024, revelam a instituição: 228,1 milhões de contas, das quais 213 milhões cadernetas de poupança, 12.864 unidades de atendimento, aí consideradas agências, postos e correspondentes bancários, e 13.160 lojas lotéricas credenciadas. Em saldo de operações de crédito, R$ 1,2 trilhão. Em fundos e programas sociais, administração de R$ 802,9 bilhões, dos quais R$ 743 bilhões no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

São 153,1 milhões de clientes cadastrados. Quase todos os cidadãos no país – ou, ao menos, alguém em qualquer família  – têm vínculos ou são atendidos pela Caixa.

Instituição é uma organização voltada a satisfazer as necessidades de uma comunidade. A Caixa é, efetivamente, mais do que um banco. Exemplo disso? A Caixa foi determinante na oferta de crédito para movimentar a economia ao final da primeira década deste milênio, quando grandes bancos privados, de olho na oscilação financeira internacional, fecharam as portas a seus clientes que buscavam empréstimos. Também foi determinante no atendimento ao país durante a pandemia Covid-19, momento em que, novamente, bancos privados se esconderam.

Empresa pública, com direção indicada por governos eleitos, há que se reconhecer que a Caixa é uma instituição apesar de – e não graças a – muitos de seus comandantes. Aqui, péssimo destaque para dois deles. Na gestão Collor (1990-1992), dirigentes indicados anunciavam a Caixa como aquela que lutava para sobreviver, seus empregados eram por eles rotulados de “massa velha” e o atendimento social acabou despejado nas garagens. Na gestão Bolsonaro (2018-2022), os dirigentes se esmeraram na venda de  ativos e da participação de algumas subsidiárias, um meio para promover o lucro fácil ao sócio privado. Festejaram resultados maquiados. Não se destruiu mais graças à falta de tempo para tanto.

No governo atual, a contradição. Até outubro de 2023, gestão alinhada aos projetos de governo, da Caixa executora de políticas de Estado. Ao final do ano, gestão destituída para dar lugar à barganha política. A instituição foi oferecida ao tal “centrão”, eufemismo para agrupamento de políticos de direita que, em tempos recentes, têm se destacado pela prática de transformar orçamento público em privado, de destino incerto e não sabido.

A administração centrão em 2024 é saudosa do governo Bolsonaro: obstáculos à concessão de crédito imobiliário, sonhos em alcançar recursos na regulamentação frouxa em paraísos fiscais, asset no noticiário de operações questionadas, insistência em Loterias S/A e, fato relevante em dezembro, anúncio de seleção de sindicato de bancos para coordenar eventual oferta pública secundária subsequente de ações ordinárias de emissão da Caixa Seguridade. É o balcão consolidado da instituição em oferta ampliada à sanha privada.

A gestão saudosista deve ser eliminada. Afinal, não se elege governo de determinada concepção política para que ele aplique a concepção derrotada. Para tanto, necessária luta em defesa da instituição Caixa, luta permanente a ser coordenada junto à população brasileira por organizações sociais e entidades representativas dos trabalhadores. E não se encare essa luta como mera palavra de ordem, por mais que aparente ser redundante.

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