Em editorial de 25 de agosto, a Folha de São Paulo defende a privatização da Petrobras, Caixa e Banco do Brasil (BB). Editorial é a voz do dono, no caso do publisher Luiz Frias de Oliveira. A Folha é parte do UOL – Universo On Line. O UOL adquiriu, em 2019, as operações financeiras do Grupo BBN, transformando-o, então, em BancoSeguro S.A. Trocando em miúdos, trata-se da voz do PagBank, das maquininhas e operações financeiras. Luiz Frias é, diz a Wikipédia, empresário e banqueiro brasileiro.
A defesa da privatização é cara àqueles politicamente de direita e extrema-direita, neoliberais, visão da qual a Folha e outros meios corporativos compartilham. Privatizar para, dizem, combater corrupção, prestar melhores serviços e promover a concorrência.
A experiência mostra que a coisa não é assim. Corrupção? Exemplo recente: processo da Sabesp foi resumido, em artigo de André Roncaglia, professor de economia da Unifesp, pesquisador da IBRE-FGV e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP, como “O saneamento de São Paulo foi privatizado a preços promocionais (e de forma privativa)”.
A privatização da telefonia gerou concentração de serviços em poucas operadoras, sem concorrência, com a maior delas controlada por investidor de fora do país, e todas campeoníssimas em reclamações no Procon.
A privatização de bancos estaduais – e, na sequência, a aquisição de menores privados pelos gigantes – também não promoveu a concorrência. Processo iniciado nos anos 1990, sob o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, resultou em sistema financeiro agora oligopolizado, concentrado em três grandes bancos privados de varejo que, para continuarem sua expansão, têm que abocanhar clientes e recursos hoje guardados em seus dois concorrentes estatais, Caixa e Banco do Brasil. Melhorar serviços, também não. Bancos privados, recordistas em rentabilidade, sumiram na crise financeira de 2008/2009. Os bancos estatais, ao contrário, ampliaram à época a oferta de crédito e, em 2013, concentravam a maior parte dos saldos das operações. Nesse período, também coube aos bancos públicos agressiva ação de redução de taxas de juros, coisa então não tolerada pelo oligopólio, o que teria iniciado o caminho para a derrubada de Dilma Rousseff. Bancos também sumiram durante a pandemia: o pagamento de benefícios extraordinários, aprovados pelo Congresso, coube quase que exclusivamente à Caixa.
A aversão à Petrobras
Em relação à Petrobras, a coisa se arrasta há décadas. Em a “História da Imprensa no Brasil” (São Paulo, Intercom; Porto Alegre, EDIPUCRS, 2011), Nélson Werneck Sodré, ao mencionar a então dependência da imprensa brasileira em relação a capitais do exterior, lembra que nos anos 1940 a propaganda imperialista anunciava que no Brasil não havia petróleo. Petróleo encontrado nos poços de Lobato, “o refrão foi rapidamente substituído; a tecla, agora, girava em torno de recursos: o Brasil não tem capitais”. A imprensa à época, sempre vozes de direita, sustentava “as teses antinacionais de entrega desses recursos à exploração estrangeira”. Em campanha “o petróleo é nosso”, o Governo Vargas, contrariando tais interesses, criou a Petrobras.
Nos governos Temer e Bolsonaro, os neoliberais defenderam enfaticamente a distribuição de todo o lucro da Petrobras em dividendos, sem retenções para investimentos, promoveram a privatização de subsidiárias, além da vinculação do preço de combustíveis à variação do produto importado. Política alterada no governo Lula, mesmo que não completamente, faz a cantilena voltar à privatização da Companhia.
Da sanha privatista, o editorial ressalva a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. A empresa é dependente do Tesouro, diferentemente de Caixa, BB e Petrobras. Suas pesquisas são essenciais para o Agro, que é pop. Se privatiza, as grandes privadas do segmento terão que gastar recursos em pesquisa. Isso eles não querem na conta.