Programa do canal Lawfare Nunca Mais, veiculado pelo Youtube na terça-feira 18 de junho, entrevistou José Carlos Alonso Gonçalves, ex-diretor de benefícios da Funcef, gestão 2010-2014. Alonso está entre as vítimas da Operação Greenfield, conhecida como “A Lava Jato do Cerrado”.
Bancário admitido pela Caixa em 1981, Alonso, uma das principais lideranças nacionais na construção e organização do movimento dos trabalhadores da Caixa desde os anos 1980, foi diretor-presidente da Apcef São Paulo, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e, anos depois, presidente da Fenae. Eleito pelos participantes, integrou o Conselho Deliberativo da Funcef e, mais tarde, o cargo de diretor de benefícios da fundação.
Saldamento e ganhos reais no benefício
Na entrevista, Alonso menciona a opção pelo saldamento do Reg/Replan, idealizada em 2006 por grupo com representação de participantes, que ele integrava, e representantes da própria Caixa. Apresenta lâminas com valores de ajustes feitos à época nesse plano, entre eles os de atualização da tábua de sobrevivência e eliminação da idade mínima para a aposentadoria. Destaca, também, os reajustes acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) aplicados de 2006 a 2011, que representaram correção real de 35,3% no valor dos benefícios. O ex-diretor também registra a construção do estatuto da Funcef de 2007, negociada com a Caixa. Esse estatuto definia a eleição de três dos seis integrantes da diretoria-executiva, além de vetar o voto de desempate para alterações do próprio estatuto e de regulamentos de planos, entre outras restrições. O voto de desempate é prerrogativa do presidente do Conselho Deliberativo, sempre alguém indicado pela direção do banco. Como se sabe, alteração do estatuto em 2021 reduziu o número de diretorias e eliminou garantias aos participantes anteriormente estabelecidas.
Investimentos
Alonso argumenta que a Operação Lava Jato, inspiradora da Greenfield, veio para destruir projetos e investimentos, então definidos no país a partir da primeira década dos anos 2000, não porque esses projetos e investimentos fossem ruins, e sim por ação de agentes que decidem as coisas no exterior e não veem com bons olhos um país subdesenvolvido se tornar um país desenvolvido. Apresenta dados do FIP Sondas, um dos investimentos mais mencionados. Nos valores investidos, informa os aportes da Funcef, Petros e, no mesmo projeto, do Bradesco, BTG Pactual, Santander, Valia, Luce Ventures e Eig Parteners. Cita, também, a JBS, investimento que não gerou prejuízo aos planos Funcef.
Processos judiciais
As acusações na Greenfield se pautam em “gestão fraudulenta ou temerária”. Ou seja, argumenta Alonso, “deveria analisar a gestão de cada um”, no caso dele a da área previdenciária, “de um diretor de benefícios, que não era diretor de investimentos”. Cada um dos gestores, diz, deveria ser processado pela gestão, nunca por um ato. O lawfare se faz com vários agentes e, menciona Alonso, “na minha situação, que não é das piores” o Ministério Público se limita a acusar “por ter votado sem observar isso ou observar aquilo, mas sem especificar o que foi feito ou o que deveria ter sido feito”. A acusação, acrescenta, “cabe a qualquer pessoa, de qualquer colegiado, de qualquer empresa (…) Se por acaso o José Carlos Alonso não estava na reunião, tira o nome do José Carlos Alonso e coloca o de seu substituo eventual. Simples assim”. Indaga o ex-diretor: “Qual a estratégia da Lava Jato? Forçar as pessoas à delação premiada. Fizeram com empresários e, um dos empresários, na audiência, que havia feito a delação envolvendo a Petrobrás, disse que na Funcef não tinha absolutamente nada”.
Perguntado a respeito de quem teria o interesse nesses processos, Alonso afirma que “os bancos não aceitam que os fundos de pensão possam investir diretamente na economia real, com resultado muito acima do que eles têm com os papéis, com muito melhor benefício geral para a nação – porque gera emprego, gera renda, receita para a União, Estados e Municípios, gera desenvolvimento. O que os bancos querem? Que os benefícios da previdência privada fiquem só nos papéis, que eles administram”.
A íntegra da entrevista está disponível em https://www.youtube.com/live/FGcVIoBTyq8