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A história oculta do sionismo

Os judeus formam grupo étnico e majoritariamente religioso com origem no ano 2.000 antes de Cristo, aproximadamente. Os sionistas integram corrente ideológica e política formada no ano de 1.896 depois de Cristo. Nem todas os grupos sionistas são formados por judeus; nem todas as grupos formados por judeus são sionistas. Antissionismo não é antissemitismo.

Em “A história oculta do sionismo” (Ed. Sundermann, 2023) Ralph Schoenman relata objetivos e ações do sionismo para a ocupação da Palestina. O autor destaca quatro mitos destinados a “moldar a consciência da maior parte da nossa sociedade sobre o sionismo“. O primeiro é de ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’, “mito assiduamente cultivado no início do movimento para criar a ficção de que a Palestina era um lugar remoto e desolado”. O segundo é o da “democracia israelense, quando inumeráveis notícias dão conta de que Israel pode ser tão democrático quanto o apartheid na África do Sul. O terceiro é o da “segurança”, o que justificaria seu poderio e ações militares dada a alegação de iminência de ameaça de massas árabes. Por fim, o quarto mito é o de que o sionismo se reivindica “herdeiro moral” dos judeus vítimas do Holocausto. Lembra o autor que “a cruel e amarga ironia dessa falsa reivindicação reside em que o movimento sionista manteve desde o princípio uma ativa coalizão com o nazismo”. A política nazista facilitava o incentivo sionista  ao êxodo de judeus para a Palestina, viabilizando, assim, a futura criação do Estado de Israel em região de população predominantemente árabe.

Schoenman também relata a apropriação de terras promovida por meio da expulsão ou assassínio de árabes ao longo do século XX. O governo israelense, imposto pela força militar em Gaza e Cisjordânia, promove milhares prisões administrativas – em verdade, políticas – por prazo indeterminado, sem que os presos tenham sido acusados de algo, tampouco julgados. Condições desumanas e torturas são práticas constantes, diz Schoenman.

O autor defende que a Palestina seja transformada em estado laico, democrático, onde possam conviver seus habitantes independentemente de origem ou confissão religiosa.

O livro data de 1988. Pode ser resumido, diz a nota à edição brasileira de 2008, em uma única frase: “as teses fundamentais defendidas pelo autor foram confirmadas pelos acontecimentos”.

Foram até 2008 e assim continuam.  Desde 7 de outubro de 2023, em incessantes ataqueas a Gaza, Israel promoveu até agora 35 mil mortos, 10 mil desaparecidos, 70 mil feridos ou permanentemente inválidos. Entre os mortos, 15 mil crianças. Segundo a ONU, milhões morrerão de fome, dado o bloqueio à ajuda humanitária imposto por Israel. A retirada do entulho e a reconstrução de hospitais, escolas, mesquitas, casas, estabelecimentos comerciais consumirá, calcula a ONU, duas décadas. Analistas acreditam que Israel e Estados Unidos, seu principal patrocinador, bancarão a reconstrução, desde que a Palestina seja entregue, definitivamente, à ocupação sionista. Nada de árabes.

Em tempo: Pouco depois de o Hamas anunciar que aceitaria as condições propostas por Egito e Catar para um cessar-fogo, Israel invadiu Rafah. A região abriga 1,5 milhão de palestinos que se deslocaram de áreas de Gaza destruídas em sete meses de incessante bombardeio sionista. Segundo o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, a ação de Israel é “intolerável”. Intolerável, no dicionário da realpolitik, é toda ação que se repudia, mas que não será barrada.  

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