Há quem diga que a segunda providência de um prefeito em seu primeiro dia de gestão é procurar a superintendência da Caixa Econômica Federal de sua região. A primeira, por óbvio, é tomar posse. Na superintendência, busca de recurso para ao menos parte de seus compromissos de campanha, antes que eles se caracterizarem apenas como promessas não cumpridas.
Talvez seja essa a razão pela qual figura personalizando o denominado “centrão” foi indicada à presidência do banco pouco antes de completado um ano do início da atual gestão federal. Sem disfarces, em nome da tal governabilidade em governo de coalização, a figura do “centrão” substituiu a até então ocupante do cargo, uma presidenta que, acima de seus defeitos e virtudes, conhecia a Caixa há décadas e estava alinhada de maneira inconteste ao programa vencedor do pleito presidencial de 2022.
Centrão, como se sabe, é agrupamento político do parlamento brasileiro que faz de qualquer política pública algo secundário ante a política privada. A Caixa é tida como o banco do município, estando presente, aliás, em 99% deles. E 2024 é ano de eleição de prefeitos.
Ao anúncio da substituição seguiu-se manifestação de entidade associativa nacional afirmando que a utilização política do banco não será tolerada! Bravata. A manifestação vai para o arquivo de publicações com a tag balela. Luta contra o uso político do banco foi marca especialmente dos anos 1990. Hoje o que há é adesão, por vezes por medo, por vezes, não.
A Caixa completa 163 anos em 12 de janeiro. Vinculados a ela, 151,8 milhões de correntistas, dos quais 149 milhões pessoas físicas. Detém 38% dos saldos em cadernetas de poupança, 66% dos financiamentos habitacionais, mais de 20% das operações de crédito no país. Faz a gestão das loterias federais, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, de programas sociais. Durante a pandemia de Covid-19, quando bancos privados desapareceram, a Caixa viabilizou o pagamento de benefícios, coisa que nem mesmo o governo neoliberal de então encontrou meios de impedir. Na crise financeira de 2009, quando esses mesmos bancos fecharam suas linhas de crédito, a Caixa foi uma das principais instituições públicas a liberar recursos para a economia não estagnar.
Todas as famílias brasileiras, não raro barradas na porta de instituições do oligopólio privado, se relacionam com a Caixa. A Caixa é cidadania. E é a cidadania que supera o jogo político. E é a cidadania que sustenta essa instituição e a faz sempre necessária.
Que siga sendo um banco público por mais, pelo menos, um século e meio.