30 de outubro de 2023 marca os 38 anos da greve de trabalhadores da Caixa pelo reconhecimento de sua condição de bancários, com consequente direito à sindicalização e à jornada de trabalho de seis horas diárias.
Bancários terceirizados, bancários estagiários, bancários concursados e reajuste pelo Telex
A greve foi a primeira da história do banco. A Caixa de então empregava, em números redondos, 100 mil trabalhadores, dos quais pouco mais de 50 mil concursados com jornadas de oito horas diárias, 30 mil terceirizados, parte deles em funções de bancários e, finalmente, 20 mil jovens estagiários, eles também exercendo tarefas de bancários, nada próximo do que se poderia convencionar como estágio. No trato com os concursados, conversa nenhuma pelo governo e direção do banco. Naquele tempo, reajustes salariais ou mudanças em plano de cargos, por exemplo, eram comunicados por Telex, uma espécie de máquina de escrever imprimindo no destino mensagem de algum emissor distante. A quem nunca viu, aparelhos de Telex e máquinas de escrever estão expostos em museus mantidos pela Caixa.
Caderneta de poupança com correção trimestral
Era a Caixa do financiamento habitacional, das cadernetas de poupança com correção trimestral, de poucos clientes de contas-correntes e, aos especiais, direito ao cheque azul. Era, também, a Caixa da prestação de serviços e um banco excluído da concorrência no sistema financeiro.
O número de unidades era muito inferior ao de hoje e, nas de ponta, a função predominante era de caixas-executivos. Operações bancárias, assim compreendidas desde aquelas de pagamento de contas de energia, água, telefone, prestações e tributos, até depósitos e retiradas, eram realizadas nas agências, com processamento de dados na madrugada. Cliente de então era cliente, não substituía bancário; casa lotérica de então realizava apostas nas loterias e, sem muito disfarce, no Jogo do Barão, mais conhecido como jogo do bicho.
Paralisando a atividade
Paralisar uma agência bancária era paralisar a atividade bancária. Clientes, de maneira geral, eram tolerantes com greves, pois bancos eram associados à imagem de banqueiros e banqueiros nunca foram cativantes. Naquele 1985, bancários realizaram em sua data-base uma das maiores greves de sua história. Empregados da Caixa, sem data-base, promoveram de forma isolada sua primeira campanha. Como mencionado, a reivindicação era específica.
O movimento foi bem-sucedido. Greve por tempo indeterminado, ensaiada para novembro, não foi necessária. Legislação específica foi aprovada naquele ano na Câmara e Senado dando ao bancário da Caixa a condição de bancário, embora fossem necessárias duas décadas para que a convenção coletiva da categoria fosse respeitada pela Caixa.
A greve de outubro de 1985 foi preparada por meses. E foi preparada essencialmente por militantes, com mais ou menos intensidade gente influenciada pelos ares de fim da ditadura militar. Os militantes eram, informalmente, pintores de camisetas, organizadores de reuniões, integrantes de comissões de esclarecimento em agências que não as suas, redatores e entregadores de boletins, delegados em seminários, congressos e comandos.
Embora ainda não expressos, conceitos como objetivos, perspectivas e organização no local de trabalho permeavam as mentes. Na campanha, objetivos, para que os trabalhadores tivessem claro o que se buscava; perspectivas, para que esses mesmos trabalhadores acreditassem na luta para alcançá-los; organização no local de trabalho, porque fundamental ao movimento. Algumas entidades sindicais e associativas participaram naquele ano, mas na condição de organizadoras: grandes dirigentes tinham claro que não substituíam sua base.
Outubro de 1985: para quem esteve lá, inesquecível. Ao mesmo tempo, o lamento por muitas das lições daquela luta estarem hoje sendo desprezadas.