Romance escrito por Itamar Vieira Junior, Torto Arado (Editora Todavia, 2019) trata da vida de brasileiros ainda submetidos à escravidão, embora formalmente o regime escravo tenha sido abolido há quase um século e meio. Famílias que ganham morada, direito a alguns palmos de terra para cultura de subsistência, em troca de seu trabalho não remunerado no latifúndio. É a escravidão pelo sistema. Personagens femininas, deste mundo ou do mundo encantado, relatam a saga ambientada no século XX.
Há uma passagem, entre tantas ali construídas, infelizmente ainda atual:
“Não vamos desistir. Essa semente que Severo plantou por nossa liberdade e por nossos direitos não irá morrer. Foi um que se foi. Meu companheiro, pai de meus filhos. Mas somos muitos ainda nesta fazenda. Foi embora um fruto, mas a árvore ficou. E suas raízes são muito fundas para tentarem arrancar. A mentira de que ele cuidava de plantio de maconha não ficará de pé (…) Nós moramos na periferia da cidade, e lá os policiais usavam a mesma desculpa de drogas para entrar nas casas, matando o povo preto. Não precisa nem ser julgado nos tribunais, a polícia tem licença para matar e dizer que foi troca de tiro. Nós sabíamos que não era troca de tiros. Que era extermínio”
