Em “A Fábrica de Cretinos Digitais – os perigos das telas para nossas crianças” (Editora Vestígio, 2022), Michel Desmurget, pesquisador francês especializado em neurociência, apresenta dados de estudos para contrapor-se à tese de que a nova geração, sob o mito do “nativo digital”, seria caracterizada como mais “esperta e ligeira”, algo como um “avanço na história humana”.
Embora todos, de todas as faixas etárias, estejam submetidos infindáveis horas à inundação das telas de TV, videogames, smartphones, tablets, para crianças e pré-adolescentes o pesquisador sustenta que o efeito dessas telas, se não limitado o tempo de utilização, reduz a capacidade cognitiva. Para ele, “qualquer adulto ou adolescente normalmente constituído é capaz de aprender bem rápido a utilizar redes sociais, os aplicativos para escritórios e serviços, tablets, smartphones (…). Não é o mesmo caso para saberes primordiais da infância. Na verdade, o que não foi estabelecido durante as idades precoces do desenvolvimento em termos de linguagem, coordenação motora, pré-requisitos matemáticos, hábitos sociais, gestão emocional etc. revela-se cada vez mais custoso a adquirir com o passar do tempo”.
Desmurget diz que, antes dos seis anos, “para crescerem de forma saudável, as crianças pequenas não precisam de telas. Elas precisam que falemos com elas, que leiamos história para elas, que lhe demos livros. Elas precisam se entediar, brincar, montar quebra-cabeças, construir casas com Lego, correr, pular, dançar. Elas necessitam desenhar, praticar esporte, música etc.”. E, depois dos seis anos, “trinta minutos por dia (tudo incluído)”. Menos telas, diz o pesquisador, significa mais vida.
Filhos com QI inferior ao dos pais
Ainda em 2020, em entrevista à Rede britânica BBC a propósito de seu livro, Desmurget destacara que “pesquisadores observaram em muitas partes do mundo que o QI aumentou de geração em geração. Isso foi chamado de ‘efeito Flynn’, em referência ao psicólogo americano que descreveu esse fenômeno. Mas recentemente, essa tendência começou a se reverter em vários países. É verdade que o QI é fortemente afetado por fatores como o sistema de saúde, o sistema escolar, a nutrição etc. Mas se considerarmos os países onde os fatores socioeconômicos têm sido bastante estáveis por décadas, o ‘efeito Flynn’ começa a diminuir. Nesses países, os nativos digitais são os primeiros filhos a ter QI inferior ao dos pais. É uma tendência que foi documentada na Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda, França, etc.”. As telas em excesso têm influência no resultado.