A fachada do Brasil é a da democracia liberal, mas o restante da construção é oligárquico. Essa oligarquia é formada por famílias de banqueiros, de proprietários de meios de comunicação centenários e de grandes empresários, alguns dos quais nem residentes no Brasil. Essas famílias patrocinam golpes, como o de 2016 que derrubou, sem crime de responsabilidade, a presidenta eleita. Não raro, leem-se notícias de seus depósitos em offshore e tratam o socorro a quem tem muito dinheiro como ciência econômica, enquanto programas sociais não passam de gastança promovida por populistas. Para manter a fachada liberal, toleram alguns retrocessos em espaços que ocupam, jamais no poder ocupado, e admitem eleições periódicas.
Essa oligarquia se vale e também é integrada por fardados. E o papel dos fardados, especialmente na gestão de Jair Bolsonaro, é tema em “Poder Camuflado – os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com Bolsonaro” (Companhia das Letras, 2022), do editor e repórter Fabio Victor. Em seu livro, o autor relata o que levou as forças armadas a patrocinarem um ex-capitão excluído da força por conduta inadequada. Também registra que Bolsonaro, “ao nomear generais da ativa para negociar cargos e verbas com o Congresso, e para falar por ele, pouco se importasse em disfarçar seu intento de militarizar a política e politizar as Forças Armadas”. Victor lembra que, no final de 2021, “quase 60% dos 5.032 militares ocupando cargos civis no governo eram da ativa (2.951)”. O autor destaca ainda os generais e a pandemia, a quebra do teto salarial de remuneração em benefício de altas patentes e o alinhamento aos parlamentares do Centrão por Bolsonaro – aqueles mesmos lembrados pelo General Heleno, homem de governo até o fim, em paródia da canção “se gritar pega ladrão, na fica um meu irmão”, com o “ladrão” substituído por “centrão”.
Enfim, leitura necessária.
