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Na Caixa bolsonarista, lucros inflados pela venda de ativos. Em outras palavras, venda que oferece a alguns poucos meios de apropriação de resultados antes exclusivamente públicos

Quinto de seis artigos da série A Caixa e seus empregados nos governos desde o Plano Real

Ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães anunciou por três anos os lucros da instituição como recordes e consequência do fim da corrupção. Guimarães foi nome incensado por Bolsonaro e seu parceiro em vídeos e viagens até tornar-se impossível a parceria pública, dadas as acusações de assédio sexual ao ex-mandatário, embora acusações amenizadas por Bolsonaro por achar as assediadas não “contundentes” em seus depoimentos. Mas voltando aos anúncios: quanto ao fim da corrupção, recorde-se que é bandeira permanente no país ao menos desde Getúlio Vargas, não poucas vezes da qual se apropriaram e se apropriam personagens sobre as quais se enfileiram acusações nessa seara, em alguns casos protegidas de necessária apuração por sigilo centenário; e, quanto aos lucros, na Caixa comandada por Guimarães parte significativa deles, em verdade, foi inflada por resultado não operacional, não recorrente, alcançado por conta da venda de ativos, não pela atividade da instituição financeira enquanto tal.

Em 2021, o lucro líquido contábil foi de R$ 17,2 bilhões, dos quais R$ 7,228 bilhões provenientes da venda de participação na Caixa Seguridade. No ano anterior, a receita já havia sido aplicada: dos R$ 13,1 bilhões contabilizados, R$ 4,926 bilhões foram lançados em resultado não operacional, atribuído a ajuste de capital na Caixa Seguridade. Em outras palavras, nos dois anos lucros inflados pela transferência do balcão da Caixa, por onde passam 148 milhões de CPFs e CNPJs, a concorrentes privados. Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, lucro de R$ 21 bilhões, mas, aqui também, há que se considerá-lo contábil e dele se deduzir o total de R$ 11 bilhões, valor registrado nas demonstrações como “eventos não recorrentes – alienação de ativos/participações”.

Mais clientes, apesar de quem a dirige

O número de agências no período Bolsonaro, dados de junho de 2022, é de 3.372, menos 19 em relação ao de 3.391 de 2014, último ano da gestão Dilma Rousseff. O de Postos de Atendimento, pouco maior: 909 ante 814, respectivamente. O total de clientes cresceu enormemente, 78,3 milhões em 2014 a 148,9 milhões de 2022. Contribuíram, para tanto, as contas digitais, parte das quais conquistada na pandemia quando a Caixa, quase que exclusivamente, foi o banco que atendeu os cidadãos com direito a auxílios emergenciais aprovados pelo Congresso Nacional. O segmento privado, nunca cobrado para nada, escondeu-se dessa clientela e a Caixa é a Caixa, neste aspecto apesar de quem a dirige. O número de empregados, no entanto, encolheu e encolheu muito: menos 13.776 no período. As poucas contratações anunciadas privilegiaram locadoras de mão de obra e, por imposição de cota legalmente determinada, de concursados enquadrados para as vagas de PCD (Pessoas com Deficiência). A estrutura segue insatisfatória, é necessário muito investimento em sistemas, quem sabe amenizando as críticas constantes de clientes por conta do Internet Banking e do Caixa TEM.

Em 2021 o Patrimônio Líquido Consolidado da Caixa, de R$ 111,5 bilhões, já incluía R$ 1,821 bilhão na rubrica “participação dos não controladores”. É o capital de sócios em subsidiárias vendidas no governo Bolsonaro. Na lista da equipe econômica do governo, há muitas outras a serem oferecidas: administradora de cartões, gestora de fundos de investimentos, Loterias S/A e sabe-se lá o que mais aparecerá. São serviços e produtos já consolidados e que trazem lucros à Caixa. Sua alienação representará, da mesma forma que as alienações já efetivadas, apenas a divisão sempre crescente e sem limites desses lucros com terceiros. E a persistir o padrão do governo Bolsonaro, a divisão seguirá até que não haja mais nada de público para dividir e os ganhos se tornem todos privados.

Na sexta-feira 28, “Caixa e o novo governo”, último artigo desta série

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