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O empreendedorismo bolsonarista e, contra ele, a necessidade da frente ampla

Ao ser indagado em entrevista ao Opera Mundi (segunda-feira 26/9) se classificaria o bolsonarismo como um fenômeno identificado com o fascismo, Paulo Arantes, professor sênior da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, disse que não. Para o acadêmico, “o alvo nem sabe o que é fascismo, embora saiba que está sendo xingado de uma coisa muito feita”. Segundo Arantes, o fenômeno bolsonarista tem as dimensões “nacional, a brasileira, e internacional atual, isto é, o retorno em grande força e pompa em certo sentido da extrema direita à cena política (…), com extrema virulência, e o nosso caso é um caso muito especial, pois está na vanguarda desse processo, de desintegração pela extrema direita”.

E o que seria o bolsonarismo, indaga o Opera Mundi. Paulo Arantes, citando análise feita pelo cientista político Rodrigo Nunes, diz que “faz parte do vocabulário básico do bolsonarismo a apologia do empreendedorismo político”. Bolsonaro personifica esse empreendedorismo, “um submundo, uma ralé de pequenos empreendedores que fazem carreira bem sucedida de youtuber, ganham dinheiro e têm repercussão política”. Esse submundo “faz contato com outros empreendedores culturais, eles podem ser empreendedores econômicos ou políticos, podem agir dentro da lei ou fora da lei, já não se sabe mais qual é a distinção entre o lícito e o ilícito”.

O professor menciona que Bolsonaro é o empreendedorismo “meio associado a um lado bandido da política, de preferência carioca, seu lugar de origem” e mais adiante “começa a ser influente, começa a se relacionar com empresários de pequeno porte, médio porte, grande porte, tem uma moeda a ser negociada” e, de repente, “ele é Presidente da República”.

Quando questionado se o bolsonarismo adotaria, no sentido econômico, o ultraliberalismo, Paulo Arantes também responde negativamente. Ultraliberalismo, diz o professor, implicaria alguma consistência ideológica. Para ele, a visão de Bolsonaro poderia ser resumida em ação pragmática, tal como “eu preciso do apoio desses caras aí – o grande capital, a propriedade privada dos meios de produção” e “para manter o meu poder, aí sim, o que significa o poder bolsonarista, eu preciso que esses caras me apoiem, sobretudo da grana desses caras. Então eu vou fazer o que eles querem. Eles querem algo semelhante, aproximado ao trabalho escravo, esfolar seus subordinados até onde for possível? Eles querem carta branca, não querem legislação nenhuma, nenhum freio? Então tudo bem (…) façam o que bem entendam, desde que não me atrapalhem a vida, me apoiem nas minhas campanhas municipais, estaduais e federais daqui pra frente, que eu vou construir uma dinastia, e me financiem”.

Na entrevista, Paulo Arantes ainda analisa as jornadas de junho de 2013, a cassação de Dilma Rousseff, aquecimento global, entre outros temas.

Crítico contumaz de governos tucanos e petistas, Paulo Arantes entende que agora a frente ampla, sem cobrança do passado, em torno da candidatura de Lula é fundamental. É Necessário derrotar Bolsonaro, que “é uma ruptura para o pior”.

A íntegra da entrevista está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7Fve-7FbXyM&ab_channel=OperaMundi

 

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