ESTANTE

Contas digitais em oferta ao lucro privado

Nota destacada pela mídia hegemônica em 9 de fevereiro atribui a Paulo Guedes a intenção de, futuramente, privatizar o Caixa TEM. Segundo o ministro da economia de Bolsonaro, a entrega do banco digital a alguns donos renderia R$ 100 bilhões, dinheiro que, disse ele, “poderia ser distribuído em benefícios sociais”. É a metodologia de sempre: livrar-se da fonte de renda e de financiamento recorrente para inflar o resultado de um período.

O economista e escritor Eduardo Moreira, informa o Portal Brasil247, vê a coisa de modo diferente: “essa proposta de criar um banco digital na pandemia era só uma estratégia para transferir todos os ativos valiosos para poder privatizar a Caixa”. E ressalta: “Guedes deve ter orquestrado estrategicamente a formação do cadastro do banco on-line para se beneficiar de alguma forma, quando acabar o governo Bolsonaro”.

O valor estimado por Guedes, aliás, coincide com o montante calculado pelo governo Bolsonaro em isenção de impostos sobre combustíveis, renúncia fiscal temporária em ano eleitoral, ainda em discussão, pretendida para que dividendos pagos pela Petrobras não sejam reduzidos. O mercado brasileiro de combustíveis está dolarizado, prática simpática a acionistas domiciliados fora do Brasil e adotada desde Temer. Para o país é trágico pelo efeito inflacionário que provoca a elevação constante dos preços da gasolina, do diesel, do gás e do etanol.

No Caixa TEM são 109 milhões de contas. O sistema permitiu a chamada “bancarização”, especialmente de gente desprezada pelo sistema, e fortaleceu a Caixa durante a crise sanitária. E o meio digital abrigará, por extensão, o controle da poupança Caixa. Assim, privatizar o banco digital é, na prática, tornar privado a alguns donos ganhos decorrentes de operação que é sinônimo de Caixa desde remotas eras. Os números da poupança traduzem bem seu significado: em 30 de setembro de 2021, último balanço disponível, a Caixa detinha 35,9% do mercado, com R$ 370 bilhões em saldos e 199,2 milhões de contas.

Diz a Caixa, em seu Relatório de Análise de desempenho do terceiro trimestre de 2021, que os bilhões em poupança são a “principal fonte de recursos da instituição” e, mais ainda, “recurso importante para o crédito habitacional com funding em SBPE”.

A depender de Guedes, seriam. Não serão mais.

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