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28 de agosto: com grande presença de bancários, assembleia de São Paulo deflagra a greve.

A proposta apresentada por banqueiros, de reajuste salarial entre 20% e 30%, foi rejeitada em assembleia de bancários de São Paulo. Reivindicação da categoria: correção de 40% e piso salarial. O ano era o de 1951, a assembleia a de 28 de agosto, presença de um quarto da categoria. A greve deflagrada era ilegal, mas duraria 69 dias. Foi boicotada pela imprensa, à época dominada por muitos dos que a controlam ainda hoje. A Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) bateu firme em trabalhadores, literalmente. A base estadual paulista ficou isolada, exceto pela companhia, por 22 dias, de Belo Horizonte. No Rio de Janeiro e no Paraná, entre outras localidades, proposta aceita.

Centenas de sindicatos haviam sofrido intervenção em 1946. Era o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), um marechal. Novas eleições sindicais foram autorizadas apenas no final de 1950, quando os bancários puderam eleger direção não comprometida com interventores. A primeira tarefa da nova direção foi organizar a categoria para a luta. No final dos mais de dois meses de greve, reajuste de 31% por decisão Tribunal Regional do Trabalho.

Esta foi uma entre tantas lutas que se seguiriam, como se seguiriam intervenções em sindicatos durante a ditadura militar iniciada com o golpe de 1964.

E aí está o 28 de agosto, o dia do bancário. Há que se recordar que, à época, greves de bancários paravam o mundo do dinheiro. Mudanças estruturais no sistema financeiro ao longo de décadas alteraram seu funcionamento. Essa realidade parece não incomodar dirigentes de muitas das entidades sindicais e as greves de hoje, quando aprovadas, são burocraticamente conduzidas. Campanhas se resumem a mesas ditas permanentes, bancários mantidos bem distantes, protestos limitados a faixas contratadas para as fachadas. Quando encerradas as campanhas, registros fantasiosos em boletins de sindicatos anunciando vitórias graças às entidades e à categoria, enfoque que revela quão apartados de seu papel de meros representantes algumas direções se sentem. Os banqueiros, enfim, são pouco incomodados.

O sistema está oligopolizado, com cinco gigantes dominando o crédito ofertado sem riscos, sob livres taxas de juros e tarifas absurdas. A essas instituições também é concedido integrar o seleto grupo dos “dealers”, intermediários privilegiados de títulos da dívida pública, com saldo de caixa remunerado em operações compromissadas de resgate quase diário. Os banqueiros, enfim, também são pouco incomodados pelo Banco Central, o que revela o significado do adjetivo independente que lhe foi atribuído.

De 821.424 bancários de 1989, a categoria foi reduzida a 391.711 em 2020. Claro, trabalhadores do sistema financeiro são muito mais que esse tanto. Estima-se que, além daqueles subcontratados por locadoras de mão de obra, as financeiras, os correspondentes bancários, as lotéricas, enfim, toda essa espécie de bancos em quase tudo que operam, empreguem para o sistema mais de 1,5 milhão de trabalhadores. Já houve tempo em que a palavra de ordem era “quem trabalha em banco, bancário é”.

Que o 28 de agosto, dia do bancário, tenha por marco a reflexão de trabalhadores, promovida por suas entidades, quanto à inadiável definição de estratégia para o presente e para o futuro. Comum ao passado, que se vê mais e mais distante, mas lição que não pode ser esquecida, é a necessidade de lutar.

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