Criada por Álex Pina, a série espanhola “La Casa de Papel” está disponível na Netflix. Na primeira e segunda partes, um grupo de assaltantes toma a Casa da Moeda da Espanha e, ali, coloca as máquinas para imprimir Euros. O líder do grupo e idealizador do assalto, o Professor, é personagem a quem o autor atribuiu visão estratégica, capacidade de planejamento e cultura incomuns.
Interessante a disputa, lance a lance tal qual em um jogo de xadrez, entre o Professor e o aparato policial. Aliás, no esconderijo do Professor está à mostra um tabuleiro, com a representação de uma partida em andamento.
Os assaltantes ganham a simpatia dos cidadãos, que vão às ruas de Madrid manifestá-la.
Em determinado episódio – desculpas antecipadas aos que não assistiram – o Professor discute com a policial que lidera a caçada a seu grupo. Diz a ela “te ensinaram a ver tudo sob o conceito de bons e maus”. Ele, Professor, obviamente está entre os maus. Pondera, no entanto, que o assalto que lidera não é recriminado se praticado por outra gente. E acrescenta: “Em 2011, o Banco Central Europeu criou, do nada, 171 bilhões de Euros. Em 2012, 185 bilhões, em 2013, 145 bilhões”. E arremata: “Sabe aonde foi todo esse dinheiro? Aos bancos! Diretamente da fábrica aos mais ricos. Alguém disse que o Banco Central Europeu foi um ladrão? Injeção de liquidez, denominaram”.
Na ideologia neoliberal atribui-se como axioma, em relação a instituições financeiras, “grande demais para quebrar”. Assim, não há limites à injeção de recurso público nessas instituições ante o que se faz crer ser um risco sistêmico, risco de quebra. A mesma ideologia impõe tetos de gastos públicos voltados a benefícios sociais e, ao admitir socorro aos pobres, o faz para evitar perdas em razão da fome, desde que tais perdas ultrapassem o limite considerado aceitável.
Há momentos da série em que personagens cantam “Bella Ciao”. Segundo o diário El País, é uma canção sem autoria confirmada, um hino à liberdade cantado na Itália a cada 25 de abril, data em que o país comemora sua libertação do fascismo em 1945.