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As Veias Abertas da América Latina

Em As Veias Abertas da América Latina, o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) indaga se esta região do mundo está condenada à humilhação e à pobreza. O livro, diz Galeano, “foi escrito com a intenção de divulgar certos acontecimentos que a história oficial, história contada por vencedores, esconde e mente”. Esse lado da América, sugado por seus colonizadores, é seu enredo.

Em um dos capítulos Galeano menciona Potosí, cidade boliviana localizada na Cordilheira dos Andes e que, em 1545, fora agraciada com o título de Vila Imperial pela então colonizadora, a Espanha do Imperador Carlos V.

Dizia-se que em Potosí até as ferraduras eram de prata no auge da cidade. Em 1.573, portanto incompletos 30 anos desde a fundação, a rica Potosí contava com 120 mil habitantes, população então equiparada à de Londres e superior à de Madrid, Roma e Paris.

Por três séculos a Espanha recebeu suficiente metal de Potosí para estender uma ponte do cume da montanha à porta do palácio real localizado do outro lado do oceano, em imagem utilizada por escritores bolivianos, diz Galeano. Bem verdade que pouco sobrava à Coroa Espanhola, à época hipotecada: os carregamentos de prata eram cedidos a banqueiros alemães, genoveses e espanhóis.  Galeano diz que a Espanha era dona da vaca, mas outros tomavam o leite.

As fontes de prata secaram e Potosí foi condenada ao subdesenvolvimento e à pobreza. Claro que a cidade está bem distante, e não só geograficamente, das mencionadas capitais europeias.

O livro é de 1970 e mereceu de Galeano um capítulo adicional sete anos depois. Se ainda estivesse entre nós, é certo que o grande escritor poderia incluir outros tantos capítulos inspirando-se na esgotada Potosí, com menções ao pré-sal brasileiro, ao petróleo venezuelano, ao gás boliviano e à maior reserva de água potável do mundo, cá do lado de baixo do Equador.

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