Famílias brasileiras que, em 2018, recebiam até R$ 1.908,00, valor equivalente a dois salários-mínimos naquele ano, comprometiam 34,5% desse ganho com despesas de alimentação. Se a renda alcançasse R$ 14.310,00, quinze salários-mínimos, tais despesas equivaliam a 6,1%. Os dados são da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.
Na média do quarto trimestre de 2020, a população economicamente ativa brasileira era de 100 milhões de habitantes, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (PNAD). Desse total, 13,9 milhões estavam desempregados, outros 23,2 milhões incluídos entre os “por conta própria”. Aqueles que a PNAD denomina “subutilizados” – trabalho eventual, em número de horas inferior à sua disponibilidade – superaram 28 milhões.
Entre os desempregados, subutilizados ou por conta própria estão cidadãos que saem diariamente para algum bico ou, sob a ameaça do rapa, comércio de chocolates, salgadinhos e fones de ouvidos em trens e ônibus para ganhar algum para o almoço e, quiçá, jantar do dia. Alternativamente, há os semáforos, onde se evidencia concorrência mais e mais acentuada.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2020 foi de 4,52%. Os preços de produtos e serviços no grupo Alimentação e Bebidas, um dos nove considerados para cálculo desse índice, tiveram variação de 14,11%.
Ao pobre, a inflação é mais punitiva e a renda de boa parte daqueles nessa faixa classifica-se em incerta, esporádica ou nenhuma.
A coisa já é ruim há seis anos no Brasil e, agora, agrava-se com a pandemia para a qual o país, com pouco menos de 3% da população mundial, contribui com 10% das mortes.
O distanciamento recomendado pelas autoridades sanitárias no mundo seria viabilizado com suporte do Estado. Afinal, se os banqueiros tiveram suporte em 2008 e têm agora, por que não os não-banqueiros? Naturalmente, em nosso sistema a pergunta soa pró-forma: o auxílio emergencial, que já foi de insuficientes R$ 600, caiu a R$ 300 e chegará por três ou quatro meses, em versão abril de 2021, em créditos de R$ 175, talvez R$ 350,00.
E ainda há quem critique a indisciplina da população pobre em relação ao distanciamento. Não é possível a crítica quando observados esses indicadores. Eles certamente explicam a foto do Washington Post.