Artigo publicado pelo espanhol El País, edição de 10 de março: “O Governo Bolsonaro passou meses defendendo um tratamento precoce sem eficácia, criticou medidas de isolamento social e demorou a fechar acordos de compra de vacinas contra a Covid-19”.
Tempos verbais incorretos na matéria: o Governo Bolsonaro ainda defende o cientificamente não comprovado tratamento precoce, ainda critica medidas de isolamento e ainda se mostra lento na compra de vacinas. O Presidente da República, aliás, há algumas semanas havia dito que quem quisesse vender que oferecesse seu produto ao grande mercado brasileiro. Inspirou-se na lei da oferta e da procura.
O Brasil, bomba-relógio na pandemia segundo a definição de cientista Miguel Nicolelis, ocupa na primeira semana de março as manchetes estadunidenses, britânicas e francesas:
The Wall Street Journal: “Covid-19: variante brasileira sobrecarrega hospitais locais e atinge mais os jovens”.
The Washington Post: “Grande parte dos países do mundo vê queda nos casos de Coronavírus. Mas o surto no Brasil só piora.”
The New York Times: “Crise do Covid no Brasil é aviso ao mundo todo, dizem cientistas”. “Brasil é visto pelo número recorde de mortes e a velocidade de novos contágios em variante que pode causar reinfecção”.
The Guardian: “Surto de Covid no Brasil é ameaça global que abre as portas para variantes letais”
Le Monde: “Covid-19: variante brasileira é ameaça”
Há outras tantas em coletânea de Carta Capital no Youtube, em 8 de março.
Com o resultado eleitoral de 2018, aqueles minimamente informados nem se mostravam otimistas em janeiro de 2019 nem alimentam esperanças em 2021. Afinal, o país do desemprego, da recessão, da fome e de número de mortes compatível ao de uma guerra está sob um governo cujo líder, antes de eleito, lamentara não terem sido executados uns trinta mil na ditadura, dissera que não estupraria determinada deputada por ser muito feia e que, quando deputado, ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, havia feito efusiva saudação ao mais famosos dos torturadores.
Ao que parece, juntam-se agora aos minimamente informados muitos dos desinformados e a lembrança do passado recente e do pária internacional em que se transformou o país segue sendo necessária.
Com eventual candidatura Lula, a oligarquia que derrubou Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade em 2016 e conduziu Bolsonaro em 2018 ao Planalto buscará novo candidato, alguém perfumado para em 2022 chamar de seu, rotulando-o como homem de centro, obviamente.
Se não o encontrar, minimizará mais uma vez o Capitão. Defenderá sua reeleição e, ante risco de derrota, irá se movimentar para impedir ou manipular 2022. A ver se e a que chegaremos.